sábado, 16 de maio de 2020

É PRECISO ESTAR ATENTO E FORTE


No marketing e na comunicação, quem não mudar vai morrer. E as mudanças não devem ser pequenas. Os efeitos do que estamos vivendo serão devastadores. 

A situação atual de quarentena, crise econômica profunda, pandemia e crise política, me fez lembrar uma música de Caetano Veloso e Gilberto Gil. Divino Maravilhoso é o nome da música, e ela traz um refrão que diz: “É preciso estar atento e forte. Não temos tempo de temer a morte.” 

Penso que hoje é disso que se trata. É preciso estar atento e forte, até porque não temos tempo nem para temer a morte. 

Vejam o que está acontecendo com as grandes marcas. Depois de 40 anos de propaganda em defesa da iniciativa privada, as grandes empresas estão tentando desesperadamente dizer que estão cumprindo um papel social no combate à pandemia do Coronavírus. Bradesco, Itaú, Petrobras, Globo …. 

As mudanças já vinham sendo impostas pelas transformações tecnológicas na infra-estrutura da comunicação, pela concentração monopólica acentuada e pela globalização. Agora, com a pandemia da COVID-19, todas as tendências apontadas anteriormente estão se acelerando. A única que pode sofrer algum nível de reversão é a da globalização, mas mesmo assim apenas na forma como vinha se dando. 

A COVID-19 empurrou a humanidade para uma experiência radical. A vivência do isolamento social, a re-significação de conceitos como saúde, vida, família, e a aceleração de experiências de trabalho em casa, devem trazer grandes implicações. Muitas empresas já vinham buscando novos formatos de relacionamento com seus clientes e de organização do seu trabalho. A reconstrução da economia, o reerguimento das empresas e organizações deve trazer grandes novidades a frente. 

Por exemplo, até o início deste ano um advogado que trabalhasse em casa não era bem visto. O raciocínio comum, normal, do mercado era: “se ele não consegue nem ter um escritório, não deve ser competente”. Assim, o mundo jurídico, que vive largamente de aparências (e não pode fazer propaganda), investiu até a COVID-19 fortunas em salas luxuosas em prédios caros. Esse raciocínio com certeza sofrerá grandes mudanças e possivelmente teremos prédios e prédios de escritórios se esvaziando nos próximos anos diante de um novo normal.  

A Havan. Provavelmente a Havan venha a falir em meio a atual crise. Mas o erro principal dela talvez nem seja sua adesão visceral ao projeto político do atual presidente. O maior erro foi apostar na abertura de grandes lojas físicas quando todo o mercado se volta para a venda digital. Na China, após a crise, a Starbucks re-abriu todas as suas lojas, mas recuperou somente 60% de seus clientes. Os demais não retomaram seus antigos hábitos de sociabilidade e, por enquanto, estão preferindo tomar café em casa. Talvez a Starbucks venha a diminuir o tamanho de suas lojas para deixar de pagar por um espaço vazio. 

Os shopping centers. A humanidade já vinha dando mostras de estar superando o modelo dos shopping centers como local ideal para fazer compras. Agora, que os shopping centers se revelaram como os locais mais perigosos e contaminantes, as pessoas vão pensar duas vezes antes de decidir ir a um shopping. 

Todos sabem que, quando se trata de marketing, quando uma porta se fecha, outra ou outras se abrem. Choveu? Esqueça o pacote de balas e vá vender guarda-chuva. Se as salas de escritório vão perder valor, agora  a indústria imobiliária prepara freneticamente lançamentos de prédios de apartamentos que já virão com home-office. 

Mas se sabemos o que fazer quando chove, o mesmo não vale agora. A COVID-19 não é uma chuva de verão. É um evento com implicações profundas, principalmente porque não se trata apenas da pandemia. Se trata de um conjunto amplo de mudanças. E simplesmente não sabemos o que o futuro nos reserva. Nos resta dobrar a atenção, procurarmos nos fortalecer e trilhar o futuro de olhos bem abertos.