Hoje, segunda feira, 23
de novembro de 2015, deve ser anunciada oficialmente a venda do Grupo
ABC para a multinacional norte americana Omnicom. Nizan Guanaes está
embolsando um bilhão, mas o Brasil está perdendo um setor de sua
economia.
Sim, a publicidade não
é um grande setor econômico. Muito mais importante é o petróleo,
a água, os minérios. Nos quais já tivemos grandes perdas. A Vale
do Rio Doce foi vendida por 3 bilhões, quando valia 92. E hoje está
aí nos brindando com a Samarco.
A publicidade, comparada
com estes setores, é muito pouco. Não tem importância. Mas penso
que os americanos não veem assim. Tanto que pagaram 1/3 do que
investiram na Vale. Creio que eles enxergam na publicidade brasileira
um valor estratégico.
Os americanos exportaram
seu modelo de vida em primeiro lugar a partir da sua indústria
cultural e de comunicação. Cinema, desenho animado, domínio da
informação, ideologia.
Ao perdermos o controle
de todas, eu disse TODAS, as 50 maiores agências de publicidade do
país (as outras já tinham sido entregues antes), estamos perdendo
controle da inteligência, criatividade, capacidade de criar. Nossos
publicitários agora são funcionários dos americanos, dos europeus
e dos japoneses.
No Grupo ABC estão
algumas das principais agências do país. África, DM9, Escala,
Interbrand, Loducca, Morya são algumas delas.
Com isso, a Globo e as
seis famílias que controlam a mídia no Brasil perderam sua última
linha de defesa externa. Estas agências não vão mais trabalhar
para a Globo e seguidores. A indústria cultural e de informação
brasileira tal como a vimos até agora também acaba no dia de hoje.
A Omnicom se apresenta
como líder global em comunicação de marketing. Depois de uma etapa
de um certo romantismo criativo na publicidade brasileira movido a
BV, o setor vai sofrer um “choque de capitalismo”.
Matéria originalmente publicada no site Folha de São Paulo.
Omnicom compra Grupo ABC, de Nizan Guanaes, por cerca de R$ 1 bi
O publicitário Nizan Guanaes vendeu o controle do Grupo ABC para os americanos da Omnicom por cerca de R$ 1 bilhão. É o maior negócio do mercado de propaganda no país desde que teve início o movimento de internacionalização das agências, há quase três décadas.
A Folha apurou que a transação foi fechada nesta sexta (20) e será anunciada na segunda (23). Pelo contrato, nada muda na gestão do grupo ABC. Nizan Guanaes e Guga Valente continuarão no comando da operação.
Duas outras agências disputaram o ABC. Uma delas foi a britânica WPP que, ainda segundo apurou a reportagem, chegou a oferecer um pouco mais. No entanto, Nizan Guanaes preferiu a Omnicom, que já é sócia minoritária no ABC e em outras empresas do grupo.
A ideia inicial do ABC era abrir o capital na Bolsa brasileira, mas o momento econômico desfavorável acabou mudando os planos. A venda foi uma forma de acelerar o processo de capitalização em um momento de consolidação dos principais conglomerados de propaganda.
O grupo ABC tem como sócios, além de Guanaes e Valente, o fundo Kinea e o grupo Icatu. Controla as agências África, Loducca, DM9, CDN, entre outras empresas.
CONSOLIDAÇÃO
A venda do controle do ABC para a Omnicom é o último grande negócio do setor e encerra um ciclo no país.
O Brasil sempre atraiu agências de fora, que aqui se instalaram acompanhando a chegada de empresas multinacionais. Até então, as agências brasileiras dominavam o mercado, principalmente as contas de governo.
A MPM, que liderava o mercado naquela época, foi comprada em 1991 pelo grupo indiano Lintas, que depois virou Mullen Lowe Lintas e cujo controle foi vendido para o Grupo Interpublic, um dos quatro maiores do mundo.
Em 2003, Nizan Guanaes relançou a MPM, que, em 2009, se fundiu com a Loducca —agência cujo controle o Grupo ABC, de Guanaes, havia adquirido um ano antes. O jogo começou a mudar quando WPP e Omnicom passaram a realizar agressivas aquisições por todo o mundo, dando início ao processo atual de consolidação.
A francesa Publicis também se moveu nesse jogo adquirindo diversas agências no mundo. Em 2010, o grupo comprou a brasileira Talent, que, recentemente, acabou se associando à francesa Marcel, também do Publicis.