segunda-feira, 5 de novembro de 2018

O quê a eleição do mito traz de novo para o marketing eleitoral no Brasil



A eleição de Jair Bolsonaro pode parecer, mas não é um ponto fora da curva. Deputado medíocre, defensor de causas ultrapassadas (tortura, ditadura militar, machismo, homofobia etc), o Messias acabou eleito contra tudo e contra todos. Verdade que seu discurso autoritário e preconceituoso não é recente. Baseado nele, Bolsonaro foi eleito parlamentar durante quase trinta anos, revelando que mesmo no Rio de Janeiro sempre existiu muita gente que persegue e apoia este tipo de coisa. A chegada ao poder da extrema direita pelo voto, nas atuais circunstâncias, não chega a ser uma surpresa.


Sim, a extrema direita venceu. Mas não foi uma eleição da qual os bolsonaristas possam se orgulhar. Se fosse no futebol, seria uma vitória daquelas em que, para ganhar, o time teve de comprar o juiz, dar caneladas e carrinhos, fazer gols de mão, dar chutes nas canelas dos adversários. Sabe quando o time não tem futebol e ganha no grito?


Foi mais ou menos isso que aconteceu. E, sim, a eleição de Bolsonaro ainda poderá ser vista no futuro como uma das maiores fraudes eleitorais da Nova República no Brasil. Mas não é isso o que importa aqui. O que ocorreu de fato é que o seu marketing “de ódio, mentiras, fake news e violência” funcionou. Foi vitorioso. E entender as razões desta vitória é o primeiro passo para compreender a existência de uma nova realidade.  


Primeiro, essa vitória se dá na esteira de um conjunto de vitórias da ultra-direita no planeta. Brexit e a eleição de Trump são a crista de uma onda mundial que tem levado direitistas ao poder. Essa onda tem por detrás o desgaste das políticas globalistas, o empobrecimento e a falta de perspectivas num mundo dominado pelas grandes corporações. Eleitores vêm desacreditando da política como um todo e estão buscando soluções radicais a direita (dado que a esquerda não tem oferecido alternativas consistentes em nível internacional e sistêmico).


Segundo, a importação do marketing de guerra da ultra-direita norte-americana, que parecia falar uma língua que seria recusada de pronto pelo eleitor brasileiro, acabou se impondo. Definitivamente, estamos globalizados. E a globalização tem muita coisa boa, mas também tem carne de pescoço difícil de engolir.


Terceiro, esta eleição se deu sob uma devastadora mudança no terreno das comunicações. Nos últimos anos, a forma como as pessoas se informam (e se comunicam) mudou radicalmente. Os meios de formação de opinião (TV aberta e fechada, jornais, rádios etc) perderam relevância. Surgiram as redes sociais com seus algoritmos e suas lógicas próprias. A atenção das pessoas se deslocou da tela da tv para a tela do smartphone.


Quarto, as alternativas tradicionais da política brasileira morreram nesta eleição. Alckmin, Meireles e outros passaram de vez pra segunda ou terceira divisão do campeonato.


Quinto, o candidato do PT perdeu mas saiu muito forte do processo. O PT é o partido com maior bancada no Congresso. Maior que o PSL. Tende a ser uma oposição frontal ao novo governo. E, assim como os democratas nos EUA parecem já estar na contra-ofensiva, Haddad se posicionou como a renovação de centro-esquerda para o futuro.


Em tudo isso, do ponto de vista do marketing, uma coisa é certa. Esta eleição foi ganha nas redes sociais, e depois dela todo o marketing eleitoral será diferente.