A
eleição de Jair Bolsonaro pode parecer, mas não é um ponto fora
da curva. Deputado medíocre, defensor de causas ultrapassadas
(tortura, ditadura militar, machismo, homofobia etc), o Messias
acabou eleito contra tudo e contra todos. Verdade que seu discurso
autoritário e preconceituoso não é recente. Baseado nele,
Bolsonaro foi eleito parlamentar durante quase trinta anos, revelando
que mesmo no Rio de Janeiro sempre existiu muita gente que persegue e
apoia este tipo de coisa. A chegada ao poder da extrema direita pelo
voto, nas atuais circunstâncias, não chega a ser uma surpresa.
Sim,
a extrema direita venceu. Mas não foi uma eleição da qual os
bolsonaristas possam se orgulhar. Se fosse no futebol, seria uma
vitória daquelas em que, para ganhar, o time teve de comprar o juiz,
dar caneladas e carrinhos, fazer gols de mão, dar chutes nas canelas
dos adversários. Sabe quando o time não tem futebol e ganha no
grito?
Foi
mais ou menos isso que aconteceu. E, sim, a eleição de Bolsonaro
ainda poderá ser vista no futuro como uma das maiores fraudes
eleitorais da Nova República no Brasil. Mas não é isso o que
importa aqui. O que ocorreu de fato é que o seu marketing “de
ódio, mentiras, fake news e violência” funcionou. Foi vitorioso.
E entender as razões desta vitória é o primeiro passo para
compreender a existência de uma nova realidade.
Primeiro,
essa vitória se dá na esteira de um conjunto de vitórias da
ultra-direita no planeta. Brexit e a eleição de Trump são a crista
de uma onda mundial que tem levado direitistas ao poder. Essa onda
tem por detrás o desgaste das políticas globalistas, o
empobrecimento e a falta de perspectivas num mundo dominado pelas
grandes corporações. Eleitores vêm desacreditando da política
como um todo e estão buscando soluções radicais a direita (dado
que a esquerda não tem oferecido alternativas consistentes em nível
internacional e sistêmico).
Segundo,
a importação do marketing de guerra da ultra-direita
norte-americana, que parecia falar uma língua que seria recusada de
pronto pelo eleitor brasileiro, acabou se impondo. Definitivamente,
estamos globalizados. E a globalização tem muita coisa boa, mas
também tem carne de pescoço difícil de engolir.
Terceiro,
esta eleição se deu sob uma devastadora mudança no terreno das
comunicações. Nos últimos anos, a forma como as pessoas se
informam (e se comunicam) mudou radicalmente. Os meios de formação
de opinião (TV aberta e fechada, jornais, rádios etc) perderam
relevância. Surgiram as redes sociais com seus algoritmos e suas
lógicas próprias. A atenção das pessoas se deslocou da tela da tv
para a tela do smartphone.
Quarto,
as alternativas tradicionais da política brasileira morreram nesta
eleição. Alckmin, Meireles e outros passaram de vez pra segunda ou
terceira divisão do campeonato.
Quinto,
o candidato do PT perdeu mas saiu muito forte do processo. O PT é o
partido com maior bancada no Congresso. Maior que o PSL. Tende a ser
uma oposição frontal ao novo governo. E, assim como os democratas
nos EUA parecem já estar na contra-ofensiva, Haddad se posicionou
como a renovação de centro-esquerda para o futuro.
Em
tudo isso, do ponto de vista do marketing, uma coisa é certa. Esta
eleição foi ganha nas redes sociais, e depois dela todo o marketing
eleitoral será diferente.